Pedia sempre que nos aprofundássemos no Estudo das Sagradas Escrituras, que fôssemos fiéis a nossa consagração, que não tivéssemos medo... – isso era sempre tema de homilia nas nossas missas conventuais. – Bem antes de falecer ele foi deixando tudo em ordem. O demais ele partilhava com os superiores.
2. Como foi para você acompanhar toda essa enfermidade?
Foi um momento de purificação! Doloroso, de fato, mas de paciência e necessariamente de confirmação da minha vocação e com certeza, de todos os irmãos e irmãs. Foi algo novo, pois nunca havia cuidado de idoso nesse estado, eu o via como criança naqueles momentos, dependente de nossos cuidados. Foi uma aventura que jamais esquecerei, eu me entristecia apenas pelo fato de não ter podido ouvi-lo mais e ter convivido mais com ele, porém, feliz por ter compartilhado esses seus últimos dias, mas o que mais me surpreendia era sua fortaleza, era divinamente sobrenatural. Somente exprimia um pequeno “ai” quando cuidávamos de suas feridas ou quando de duas em duas horas deslocávamos de posição devido à circulação sanguínea.
3. Tinha alguém a quem mais ele obedecia, escutava na casa?
Durante a sua enfermidade ele costumava ouvir mais os mais velhos, quanto a nós, mais jovens e recém-chegados, costumava apenas observar e dizer, quando queria fazer algo: - “Ajuda aqui filinho(a)!”, era a frase que ele mais falava.
4. Como foi a aceitação de fazer o tratamento, ele resistiu muito?
Tudo lhe foi comunicado, ele estava a par de tudo o que acontecia no Instituto e na Paróquia: eleição do novo superior, festa dos padroeiros, homenagens, inclusive as suas internações e operação; ele nada dizia... Já que também com um tempo foi deixando de conseguir falar, porém, segundo o médico que o acompanhava, Dr. Sílvio Frota, ele estava ciente de tudo. Seu silêncio parecia-me uma forma comprovada de dizer, literalmente: “Se tem que ser feito”... De início e de uma forma surpreendente, ele bem correspondia aos medicamentos e tratamentos, somente bem antes de sua morte que foi se agravando o estado físico.
5. Que palavras lhe marcam até hoje?
“Eu amo vocês”, “vocês são fundadores de ordem”, “É Deus quem chama. (...) Nem a morte pode destruir a nossa consagração”... Ele era todo assim: de Deus... Palavra nos lábios, porém sua vida, suas atitudes falavam mais alto.
6. Que ambiente lhe faz lembrar de maneira mais forte o Pe. Caetano?
Na verdade, “ambientes”, pois todo lugar o faz recordar: a Capela do mosteiro, o dois quartos: o que ele morou e principalmente o que ele ficou durante seu tratamento; a biblioteca, o lado de fora da capela onde tomava banho de sol e gostava de rezar olhando pro mar, a igreja Matriz, o Pirambú... Não consigo responder apenas um lugar.
7. Nesta pergunta quero citar uma passagem bíblica. Em Gênesis fala “houve uma tarde e uma manhã e um dia seguinte surge”. Como foi à tarde do dia 31 para a manhã do dia 01?
Na UTI só podia permanecer uma pessoa com o Padre. Como já existia uma pessoa ajudando a cuidar dele, o Francisco e uma escala mensal entre os irmãos da Nova Jerusalém, então quem iria era o Francisco sem a necessidade de um irmão “dormir” na UTI, porém, ele pediu para trocar comigo, pois precisou sair. A Ir. Juliana foi quem me comunicou minha ida. O Ir. Marcelo já havia passado à tarde com o Padre. À noite, o Ir. Jackson foi me deixar com a Ir. Juliana para pegar o Ir. Marcelo pra que ele fosse à missa na Matriz. Quando chegamos, o Ir. Marcelo comentou só com a gente: “Não consigo mais ver o Pe. Caetano assim...” O Luciano, um de seus filhos esteve uma hora com ele. Notamos que ele já respirava com muita dificuldade. (...) Antes da meia noite, muito dos irmãos e irmãs me ligaram pra nos desejar Feliz Ano Novo. À meia noite, fui ao banheiro para rezar, pois as enfermeiras entravam e saíam. Agradeci a Deus por mais um ano e pedi perdão pelas nossas falhas. Quando voltei, peguei em sua cabeça e lhe disse chorando: - “Pe. Caetano, nós amamos muito o senhor. O Pirambú te ama... Perdão por não cuidarmos melhor do senhor e pelas falhas que cometemos. Reza pela minha conversão”. Beijei-o e cobri-me com o cobertor, pois me tremia muito de frio. Durante a noite, ele tossia com dificuldade... Meus olhos pesavam muito. De vez em quando eu ia até ele pra ver como estava. Era umas 03h15min. do dia 1º de janeiro, uma sexta-feira a qual jamais me esquecerei. Sem menos avisar já estava gozando da visão beatífica. Até hoje me pergunto como isso aconteceu. Olhei pro seu rosto e estava pálido, peguei em seu coração e não o senti bater. Chamava seu nome, mas nada respondia. Chamei a enfermeira e ela chamou o médico plantonista com a máquina de ressuscitação... trabalho vão, até ela chorava dizendo: “Ai, meu Deus, o Padre tá falecendo!”. O médico me pediu pra ir pra fora. Espiritualmente eu estava bem, a minha preocupação era de passar a notícia... Parece que eu estava vendo aquela multidão chorando na igreja, o sino badalando... Eu ligava pra todos, mas ninguém atendia, aí nessa hora o meu desespero aumentou, comecei a chorar bem alto dentro daquela clínica sozinho... Até que a Ir. Juliana me retorna. Também não sei como encontrei força pra lhe passar a notícia. Calmamente eu disse: - “Irmã, bom dia, tudo bem? Olha eu tenho uma notícia não muito boa pra dar pra senhora”. Ela respondeu que eu podia dizer, então eu disse: - “O Pe. Caetano faleceu e eu tô quase passando mal”. Ela pediu pra mim rezar e se acalmar, pois todos já estavam esperando a notícia (o próprio Dr. Sílvio foi bem sincero conosco ao afirmar que, dessa vez o Padre só voltaria pra casa através de um milagre, mas Nosso Senhor não quis aumentar suas dores). Então os irmãos chegaram com o Pe. Helton e foram agilizando os procedimentos funerais. (...) Tem uma cena que não me esqueço: como a notícia se espalhou rapidamente... Acompanhamos o carro da funerária e quando esse chegou à altura entre a Marinha e a Av. Dr. Theberge, umas pessoas acenavam em direção ao carro se despedindo do Padre e outras até se benziam com o sinal da cruz. TEMOS MAIS UM SANTO!
Revista Católica Gênesis – JAN / 2010 em virtude de um ano da páscoa do nosso Pai-fundador
2. Como foi para você acompanhar toda essa enfermidade?
Foi um momento de purificação! Doloroso, de fato, mas de paciência e necessariamente de confirmação da minha vocação e com certeza, de todos os irmãos e irmãs. Foi algo novo, pois nunca havia cuidado de idoso nesse estado, eu o via como criança naqueles momentos, dependente de nossos cuidados. Foi uma aventura que jamais esquecerei, eu me entristecia apenas pelo fato de não ter podido ouvi-lo mais e ter convivido mais com ele, porém, feliz por ter compartilhado esses seus últimos dias, mas o que mais me surpreendia era sua fortaleza, era divinamente sobrenatural. Somente exprimia um pequeno “ai” quando cuidávamos de suas feridas ou quando de duas em duas horas deslocávamos de posição devido à circulação sanguínea.
3. Tinha alguém a quem mais ele obedecia, escutava na casa?
Durante a sua enfermidade ele costumava ouvir mais os mais velhos, quanto a nós, mais jovens e recém-chegados, costumava apenas observar e dizer, quando queria fazer algo: - “Ajuda aqui filinho(a)!”, era a frase que ele mais falava.
4. Como foi a aceitação de fazer o tratamento, ele resistiu muito?
Tudo lhe foi comunicado, ele estava a par de tudo o que acontecia no Instituto e na Paróquia: eleição do novo superior, festa dos padroeiros, homenagens, inclusive as suas internações e operação; ele nada dizia... Já que também com um tempo foi deixando de conseguir falar, porém, segundo o médico que o acompanhava, Dr. Sílvio Frota, ele estava ciente de tudo. Seu silêncio parecia-me uma forma comprovada de dizer, literalmente: “Se tem que ser feito”... De início e de uma forma surpreendente, ele bem correspondia aos medicamentos e tratamentos, somente bem antes de sua morte que foi se agravando o estado físico.
5. Que palavras lhe marcam até hoje?
“Eu amo vocês”, “vocês são fundadores de ordem”, “É Deus quem chama. (...) Nem a morte pode destruir a nossa consagração”... Ele era todo assim: de Deus... Palavra nos lábios, porém sua vida, suas atitudes falavam mais alto.
6. Que ambiente lhe faz lembrar de maneira mais forte o Pe. Caetano?
Na verdade, “ambientes”, pois todo lugar o faz recordar: a Capela do mosteiro, o dois quartos: o que ele morou e principalmente o que ele ficou durante seu tratamento; a biblioteca, o lado de fora da capela onde tomava banho de sol e gostava de rezar olhando pro mar, a igreja Matriz, o Pirambú... Não consigo responder apenas um lugar.
7. Nesta pergunta quero citar uma passagem bíblica. Em Gênesis fala “houve uma tarde e uma manhã e um dia seguinte surge”. Como foi à tarde do dia 31 para a manhã do dia 01?
Na UTI só podia permanecer uma pessoa com o Padre. Como já existia uma pessoa ajudando a cuidar dele, o Francisco e uma escala mensal entre os irmãos da Nova Jerusalém, então quem iria era o Francisco sem a necessidade de um irmão “dormir” na UTI, porém, ele pediu para trocar comigo, pois precisou sair. A Ir. Juliana foi quem me comunicou minha ida. O Ir. Marcelo já havia passado à tarde com o Padre. À noite, o Ir. Jackson foi me deixar com a Ir. Juliana para pegar o Ir. Marcelo pra que ele fosse à missa na Matriz. Quando chegamos, o Ir. Marcelo comentou só com a gente: “Não consigo mais ver o Pe. Caetano assim...” O Luciano, um de seus filhos esteve uma hora com ele. Notamos que ele já respirava com muita dificuldade. (...) Antes da meia noite, muito dos irmãos e irmãs me ligaram pra nos desejar Feliz Ano Novo. À meia noite, fui ao banheiro para rezar, pois as enfermeiras entravam e saíam. Agradeci a Deus por mais um ano e pedi perdão pelas nossas falhas. Quando voltei, peguei em sua cabeça e lhe disse chorando: - “Pe. Caetano, nós amamos muito o senhor. O Pirambú te ama... Perdão por não cuidarmos melhor do senhor e pelas falhas que cometemos. Reza pela minha conversão”. Beijei-o e cobri-me com o cobertor, pois me tremia muito de frio. Durante a noite, ele tossia com dificuldade... Meus olhos pesavam muito. De vez em quando eu ia até ele pra ver como estava. Era umas 03h15min. do dia 1º de janeiro, uma sexta-feira a qual jamais me esquecerei. Sem menos avisar já estava gozando da visão beatífica. Até hoje me pergunto como isso aconteceu. Olhei pro seu rosto e estava pálido, peguei em seu coração e não o senti bater. Chamava seu nome, mas nada respondia. Chamei a enfermeira e ela chamou o médico plantonista com a máquina de ressuscitação... trabalho vão, até ela chorava dizendo: “Ai, meu Deus, o Padre tá falecendo!”. O médico me pediu pra ir pra fora. Espiritualmente eu estava bem, a minha preocupação era de passar a notícia... Parece que eu estava vendo aquela multidão chorando na igreja, o sino badalando... Eu ligava pra todos, mas ninguém atendia, aí nessa hora o meu desespero aumentou, comecei a chorar bem alto dentro daquela clínica sozinho... Até que a Ir. Juliana me retorna. Também não sei como encontrei força pra lhe passar a notícia. Calmamente eu disse: - “Irmã, bom dia, tudo bem? Olha eu tenho uma notícia não muito boa pra dar pra senhora”. Ela respondeu que eu podia dizer, então eu disse: - “O Pe. Caetano faleceu e eu tô quase passando mal”. Ela pediu pra mim rezar e se acalmar, pois todos já estavam esperando a notícia (o próprio Dr. Sílvio foi bem sincero conosco ao afirmar que, dessa vez o Padre só voltaria pra casa através de um milagre, mas Nosso Senhor não quis aumentar suas dores). Então os irmãos chegaram com o Pe. Helton e foram agilizando os procedimentos funerais. (...) Tem uma cena que não me esqueço: como a notícia se espalhou rapidamente... Acompanhamos o carro da funerária e quando esse chegou à altura entre a Marinha e a Av. Dr. Theberge, umas pessoas acenavam em direção ao carro se despedindo do Padre e outras até se benziam com o sinal da cruz. TEMOS MAIS UM SANTO!
Revista Católica Gênesis – JAN / 2010 em virtude de um ano da páscoa do nosso Pai-fundador