sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Entrevista com Ir. Narcélio, NJ


  1. Quem é você?
Eu sou um mistério para mim mesmo, porém, minto se não disser que a cada dia busco em Deus e somente n’Ele a razão da minha existência. Acredito que em Deus e só n’Ele se encontra minha verdadeira identidade. Porém, eu sou o que recebi, não sou nenhum deus, nenhum anjo, não sou o que pintam de mim, há, na verdade exageros como também falsas imagens. Para mim, eu sou uma pessoa ontológica que busca ser aquilo que Deus quer. Sou muito alegre, vivo sorrindo, mas eu sofro muito para que esse sorriso seja real. Sou uma pessoa fraca que se comove com a dor dos outros. Sou severo no que diz respeito à lealdade, a verdade e a integridade das pessoas. Muito difícil me estressar, mas quando isso acontece... sai de perto. Não tenho coragem de bater (só em último caso). Sou uma pessoa inquieta, não me conformo com determinadas situações. Sei ser amigo, mas confesso que às vezes “sugo até o talo” uma amizade sincera. Sou irônico, mas luto pra que essa ironia não fira ninguém. Sou realista, porém, me vigio para que essa “sede” pela verdade não seja uma revolta maquiada. Enfim, eu sou uma pessoa muito feliz, porque tudo o que um homem de verdade precisa eu tenho em casa, inclusive uma linda mulher: a Mary.

  1. Por que quis entrar na Vida Religiosa?
Até hoje eu não sei por que, quando se trata de vocação, está mais pro campo existencial da pessoa. Não se trata de saber, mas experimentar, viver, ousar. Mas o que me levou a se interessar foi uma voz que me acompanhava desde criança, uma sede insaciável de Deus; sentia-me impotente, como também hoje me sinto, mas uma impotência utilizável, me sentia ainda incapaz... Aí eu quis-me sentir realizado na minha vida. Se eu nascesse cem vezes, cem vezes seria religioso!

  1. O que fez você acompanhar a IAM?
“O quê” não, “quem”. Foi Deus, com certeza. Mas na verdade tudo nasceu de uma profecia do Ir. Paulo Henrique, meu promotor no Aspirantado, numa missa de sábado, nas vésperas do domingo de Ramos (31/03/2007) na Capela Nossa Senhora de Fátima. Ele dizia que eu ainda iria levantar a juventude daquela zona, porque o público era apenas pessoas mais idosas. Quando entrei no postulantado em 2008, tendo o Pe. Rogério como mestre, no final do primeiro semestre de 2008 ele pede pra que eu encerre o círculo bíblico começado no Vila Santo Antônio no primeiro semestre e assumisse o João XXIII. No segundo semestre pede que eu assuma a IAM. Numa missa da 4ª feira na Matriz (20/08), procurei alguém dessa zona na missa, sabia que a Estefânia era de lá. Conversamos um pouco e ela se alegrou em saber que eu já havia sido assessor e fundador da IAM no Genibaú, então no dia 25/08/2008 comecei a acompanhar, de início com o Círculo bíblico e a partir do ano de 2009 com a pastoral da Missão. Me lembro que eu estava gripado, que o Ir. Franklins estava em sua experiência e foi comigo e foi o dia em que o Pe. Caetano havia recebido alta.

  1. O que você achava no começo (IAM)?
Muita dispersão, falta de essência, falta de compromisso e espiritualidade. Um cristianismo apenas nominal, cheio de práticas exteriores, falta de amizade sincera, de olho no olho, de caridade abrasadora. Suávamos a camisa, trabalhávamos muito, porém, confundíamos o “fazer” com o “ser”, esquecíamos de viver uma vocação específica a qual Deus nos confiou e deveria ser seguida como realmente pede o Evangelho e nossas diretrizes.

  1. O que você vê agora? (IAM)
Muita sede de Deus, embora que esse desejo seja acompanhado por fraquezas e decepções, o que é comum na caminhada de qualquer ser humano. Atualmente, noto uma vivacidade maior, um clima vital e muito mais pacífico. Amor mútuo, auto-ajuda, mais equilíbrio...

  1. Já sentiu vontade de desistir? Por quê?
Muitas. Porque não foram poucas as decepções que tive. Quando via tudo aquilo que ensinava e construía com muito esforço indo pro ar, aquilo doía muito em mim. Não sei porque doía, mas sou assim. Já cheguei a chorar, ao ponto de alguns irmãos perceberem e se questionarem a me ver assim, o que não é normal. Já tinha tentado de tudo: encontros, formações missionárias, de doutrina, formação humana e espiritual, até dinâmicas, gincanas, brincadeiras... Ninguém queria renunciar sua vidinha de comodismos e de “facilidades”.

  1. O que lhe incentivou a continuar?
Da penúltima vez que tentei desistir foi vendo a fragilidade dos meninos durante um tempo em que tentei se afastar um pouco. Em seguida, o SVES, que mesmo em meio a decepções por minha parte, vi que algumas pessoas se interessavam em aprofundar aquilo, então pensei nelas.

  1. Por que está na JM agora?
Primeiro porque é da vontade de Deus, segundo porque não contradiz com a vontade dos meus superiores e em terceiro porque eu amo o que ela é e o que faz. Porque ela fez e sempre fará parte da minha vocação, porque me sinto feliz, me sinto em família, acolhido, amado, compreendido e o que não gosto é que às vezes me dão muita liberdade e alguns acham que eu sou alguém mais importante ou mais inteligente que eles.

  1. O que pensava da JM quando estava apenas no início?
Achava necessária, porém, de início começou um pouco desorganizada e sem compromissos sérios por parte de seus respectivos membros que só sabiam reclamar e nada faziam, parece que estavam ali por estar mesmo, parecia mais uma “Pastoral dos Namorados”, um ponto de encontro ou um timezinho de futebol, menos Juventude Missionária.

  1. O que você está achando agora?
Ela está redescobrindo sua originalidade, traçando novos horizontes a partir de sua realidade enquanto obra pontifícia. Precisa ser encarada como o que ela é, estendê-la à paróquia, definir estratégias, usar de sagacidade. Porém, enquanto filhos da Paróquia Cristo Redentor e do saudosíssimo Padre Caetano necessita mergulhar cada vez mais na ação do Espírito Santo.

  1. Quem mais mudou com isso tudo?
Cada um traz em si um pouco do que é a JM e ela influencia sim no jeito jovem e livre de ser de cada um de nós. Ela não é uma filosofia, mas precisa ser acreditada, não é algo novo, é algo inovador. Não citaria nomes, mas com certeza existem pessoas que de um tempo pra cá, abraçaram a causa e vestiram a camisa. Dessa vez suaram, mas de lutar contra si mesmo. De “enfrentar” os amigos da escola, de não ter vergonha de ter fé, de renunciar o que gostava... Várias são as pessoas que me perguntam ou afirmam algo de tal e tal pessoa, e eu sempre atribuo isso ao Espírito Santo e a vontade da pessoa.

  1. O que representa a JM pra você?
Uma profecia. Ela é uma resposta do amor de Deus para mim.

  1. Onde pode melhorar?
Não responderia com minhas próprias palavras, mas utilizaria a exortação do Papa Paulo VI:
“A Igreja tem necessidade de um perene Pentecostes; necessita do fogo no coração, da palavra nos lábios, de profecia no olhar. A Igreja necessita ser templo do Espírito Santo, isto é, de total limpeza e de vida interior; necessita voltar a sentir dentro de si, em nosso mundo vazio, de homens modernos, totalmente extrovertidos pelo encantamento de vida exterior, sedutora, fascinante, que corrompe com lisonjas de falsa felicidade, necessita voltar a sentir, repetimos, como que elevar-se do profundo de sua personalidade íntima um pranto, uma poesia, uma prece, um hino, isto é, a voz orante do Espírito que, como ensina S. Paulo, ocupa o nosso lugar e ora em nós e por nós com ‘gemidos inenarráveis’ e interpreta as palavras que nós sozinhos não saberíamos dirigir a Deus. Homens de hoje, jovens, almas consagradas, irmãos no sacerdócio! Vós nos escutais!? A Igreja tem necessidade disto. Tem necessidade do Espírito Santo. Do Espírito Santo em nós, em cada um de nós, em todos nós juntos, em nós Igreja”. Respondeu? Espero que sim.

  1. Quem você mais admira? (na JM & no seu cotidiano)
Tem que citar nomes mesmo é? Tudo bem... Que os outros não fiquem chateados, pelo contrário, vocês também são alvo da minha admiração. O Felipe. É porque algo me fazia rastrear ele, algo me dizia que ele é quem iria continuar o que eu comecei, mas ele fugia muito, me fazia chorar de desgosto porque perdia muito tempo. O Retiro funcionou como uma pedra que o fez tropeçar e cair do cavalo, hoje tenho certeza que esse “algo” que me fazia rastrear ele é a voz de Deus. Agora sim o tenho como irmão-amigo porque antes ele era alienado em outras coisas. Surpreendi-me com ele depois desse Retiro, como de fato todos os dias me surpreende.
No meu cotidiano eu não sou de admirar ninguém.

  1. O que você acha dos membros de agora?
Mais dispostos, mais vivos e comprometidos, porém alguns precisam se decidir por Cristo, acabarem com o infantilismo, levar isso a bom termo, se ajudar, procurar ajuda, querer ser ajudado, aceitar a própria condição e não maquiar a vida ou querer pintar da cor que quiser. Precisa ter radicalidade baseada no Evangelho e parar de dar voltas ao redor de si, ter convicções firmes, pois de outra forma nunca atingirão seus ideais.


  1. Já aprendeu algo com a JM? O que?
Aprendi mais do que ensinei porque o que eu ensinei foi teoria, o que eu aprendi foi na prática. Hoje o que eu sei, pastoralmente falando, adquiri no Genibaú e na Nova Jerusalém, claro, mas a JM me deu um bom suporte, foi a primeira em muitas coisas: aconselhamento com jovens, por exemplo.

  1. Quem é você agora?
Eu sou eu, não apenas aquele sujeito que vejo no espelho. Sou um apto candidato a Vida Consagrada. O mesmo menino brincalhão de sempre que gosta de café, de ovo frito, de cantar, que gosta de pôr espelho em frente às pessoas e fazer elas saberem que são imagem e semelhança de Deus, que são importantes, que são amadas por Deus e por mim. Sou ainda aquele que gosta de MSN, de Orkut, de rádio e festa... Mas com novos compromissos e desafios. Não me pertencerei mais, no dia da consagração, quando ler e assinar aquela carta sobre o altar, quando retirar este escapulário cinza e pôr um preto, embora não seja apenas uma mudança de cor de hábito, mas uma opção... serei todo de Deus e de VOCÊS, porque Deus não precisa de mim, ele quis precisar, ele não fica com nada para si. Ao me consagrar, não estou me reprimindo, não estou fugindo de nenhuma frustração, ninguém me obrigou a ser irmão, não pense que me faltaram mulheres nem a capacidade de formar uma ilustre família, pelo contrário... Não estou revoltado com a vida, nem com aminha família, nem querendo mostrar que sou bonzinho, o melhor ou o pior, o que eu quero é ser de Deus, estar livre para ele, me aniquilar se for preciso pra viver e morrer de amor. Eu sei que fui feito pra isso! Não pense que religioso(a) ou padre é um coitadinho(a) que não sabe o que o mundo passa, as pessoas sentem. A embalagem engana! Eu quero, eu preciso, EU VOU SER SANTO. Me responsabilizo pelo que eu escrevi aqui, você não leu errado! Ninguém vai me tirar essa santa cobiça que tenho desde pequeno! Não espero ser aquele santo de altar, mas um que usa calça jeans, que bebe Coca-Cola, que tá no Shopping , no Cinema, que curte músicas saudáveis, que não tem medo de abraçar, da dar um beijo na cabeça de meus verdadeiros amigos, de estar sempre on-line, mas que reza, que silencia, que se retira sempre que necessário para se reabastecer e que está disposto a se desgastar e fazer da vida um eterno recomeço. O mundo tá ficando doente, eu não!




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Se você gostou ou não gostou o problema é seu, isso se chama liberdade de expressão, se vocês obrigam as pessoas aceitar tudo o que vocês dizem, querem ser compreendidos, têm de escutar também o que pensa a Igreja e escutar não é aceitar. Se for “ultrapassado” ou “milenarista” é o que ela pensa e eu a defendo porque se algo que está em pé após dois mil anos e depois de tantas desavenças, é porque só pode ter algo de divino nela. Mas independente de qualquer coisa, essa Igreja me ensina, antes de tudo, a viver o Evangelho, ou seja: pra amar a Deus, tenho de amar o meu irmão.
Um santo Natal e um 2011 repleto de realizações, de saúde, paz, fidelidade e tudo o que eu não consigo expressar aqui. Que a luz do Menino Jesus contagie sua vida hoje e sempre.