Natural de Neder-Ockerzeel, uma cidade perto de Bruxelas, Bélgica, Gaetan Minette de Tilesse, nasceu em 07 de junho de 1925, filho de Georges Minette de Tiliesse e Augusta de la Zangrye Baronne. Sacerdote, escritor, exegeta e fundador do Instituto Religioso Nova Jerusalém, além de idealizador e construtor do bairro e da paróquia de Cristo Redentor. É amado e conhecido simplesmente como Pe. Caetano.
Depois de ter lutado na segunda guerra mundial, entrou no mosteiro Cisterciense Trapista de Orval (Bélgica), em 11 de fevereiro de 1946, ali permanecendo até março de 1968 (totalizando, assim, 22 anos de silêncio e contemplação). Estudou Filosofia e Teologia no mesmo mosteiro, mas em 1952, foi enviado à Roma, para tirar a licenciatura em Teologia na faculdade Gregoriana, e, em seguida ingressou no instituto Bíblico, onde tirou a licenciatura em Bíblia. Durante 11 anos lecionou Bíblia, Liturgia e Novo Testamento em seu mosteiro, sendo ali o único professor de Bíblia.
Depois do Concilio, aprofundou-se, no Mosteiro de Orval, um estudo sério, comunitário, sobre a possibilidade de fazer uma fundação diferente, renovada, mais inserida no meio do povo. Após muitas reflexões, orações (um retiro de 30 dias em Paris com o Pe. Jean Laplace,SJ) e consulta aos maiores teólogos e diretores espirituais conhecidos, dois dos monges de Orval (dentre eles Pe. Caetano) pediram a autorização para fazer uma experiência renovada no Brasil, onde chegaram em 28 de março de 1968. Fizeram uma experiência de 8 meses em Salvador, acolhidos carinhosamente no Mosteiro de São Bento e trabalhando na favela de Pau Miúdo, em Salvador. Em novembro de 1968 optaram definitivamente por morar e trabalhar na cidade de Fortaleza — CE, onde se decidiram pelo sofrido e marginalizada bairro do Pirambú (atualmente Cristo Redentor).
TRABAHO SOCIAL:
O trabalho de Pe. Caetano não se resume apenas ao âmbito religioso de Cristo Redentor (Pirambú), ele iniciou uma movimentada atuação junto aos moradores do lugar, dando continuidade ao trabalho pioneiro iniciado por Pe. Hélio Campos, foi continuado os trabalhos com os Conselhos Comumtários, Conselhos das Zonas, Conselho Geral, Comissão de Conciliação e Comissão Eleitoral. Dando-se continuidade ao trabalho foi elaborado o estatuto do Conselho Geral Comunitário. O primeiro feito por Pe. Caetano junto com o Conselho Comunitário foi a abertura da Av. Dr. Theberge até o mar; antigamente havia muitos alagamentos que causavam transtornos aos moradores.
A seu pedido a Prefeitura fez: o primeiro esgoto do bairro, desde a R. Camélia até o mar o calçamento da Av. Dr. Theberge até o mar — Na Zona de Casas Novas o calçamento da R. Santa Elisa (800m) religava Casas Novas, que ficava numa duna intransitável e representou uma integração e uma urbanização definitiva, atingindo mais de 1000 casebres do povo. . Logo que chegou o calçamento, o aspecto dos casebres mudou totalmente, começaram a fazer uma frente de tijolos, a alinhar as casas e melhorar o aspecto exterior e interior; fazer fossas sanitárias, adquirir ifitros etc. Foi conseguida da prefeitura a construção de um chafariz na frente do Centro Comunitário, para dar água potável ao povo. Nas esquinas da R. 5. Elisa com Vicente de Sabóia, foi feito um esgoto que acabou com a torrente de água que descia todos os invernos e derrubava as casas perto da praia. Em Casas Novas foi ampliado o Colégio São Cura D’Ars, que comportava apenas 4 saias pequenas, foi ampliado e construídas 8 salas grandes e uma quadra de esportes, passando de 400 alunos para uma escola integrada de (1 a 8 serie) com mais de 100 alunos numa das faixas mais pobres de nosso bairro. Para tanto foi conseguida verba da secretaria de educação, contudo, a construção foi realizada pela comunidade, juntamente com Pe. Caetano. A própria designação do bairro como Cnsto Redentor foi proposta sua, prontamente acatada pela prefeitura de Fortaleza.
Na Zona dos Arpoadores Pe. Caetano doou um terreno e a secretaria de educação construiu um grande colégio, inteiramente novo, o São José dos Arpoadores, que hoje atende a mais de 1000 alunos carentes. Ainda nesta Zona na década de 90 cedeu uma parte do terreno da Nova Jerusalém para a prefeitura para a construção de uma creche que atende a crianças carentes da área. O colégio Marvin também foi fruto de suas lutas e conquistas. Foi uma batalha de mais de 2 anos para conseguir as autorizações da União federal e o acordo dos donos do terreno. Hoje o colégio atende a uma média de 3000 alunos do Ensino Médio e Fundamental. Doou ainda outro terreno na Zona do Japão para a construção de um posto policial; e conseguiu ainda nesta Zona com a colaboração do Lions Jangada, a construção de mais um colégio de ensino fundamental Lions Jangada.
Em 1969 foi inaugurada urna instituição para amparar as crianças abandonadas da comunidade. Mais de 100 crianças carentes e abandonadas foram acolhidas na Creche Infantil Cristo redentor, sendo uma boa parte dessas, cerca de 56 crianças, foram registradas com seu próprio nome. A pedido de Pe. Caetano foi construída pelo Governo uma Casa Creche, Casa da Criança Sevlla Médicis, que ampara mais de 100 crianças desde o berçário até o pré-escolar. O Ginásio Cristo Redentor, com a ajuda do Rotary Clube, também foi uma conquista no campo da educação, funcionando como uma escola integrada de ensino Fundamental, atendendo mais de 800 alunos.
A Av. LESTE-OESTE (Pres. Castelo Branco) também é projeto seu. Havia um projeto para essa avenida que atingia até a Av. Pasteur e lá terminava. Havia também, só na planta, sem orçamento e sem prazo de realização, uma possível continuação dessa avenida que iria atravessar o imenso quarteirão incluindo entre as avenidas Theberge e Pasteur ao Leste-Oeste, e entre as ruas N. Sra. das Graças e Santa Terezinha (atual leste-Oeste) ao Norte e ao Sul. Este projeto iria destruir uma grande parte dos casebres naquela área. Pe. Caetano pessoalmente estudou o problema, conseguiu uma planta aerofotogramétrica da área, e elaborou um projeto que comunicou pessoalmente ao então prefeito Vicente Fialho e ao Engenheiro da SUMOV Dr. Renato, encarregado da realização da avenida. Mostrou o projeto traçado no mosaico aerofotogramétrico, levando o prefeito e o engenheiro até o local, do lado da Zona do Japão e arrodeando pela Av. Francisco Sá, do lado da Colônia atravessando as hortas, até chegar a Barra do Ceará ( onde já havia 1800m de calçamento). Mostrou como seria mais econômico e funcional o seu projeto e que iria prejudicar bem menos o povo, e até ajudando com a abertura de um acesso direto, fácil e rápido para o centro da cidade, para os hospitais e locais de trabalho. Eles, convencidos e empolgados com a idéia resolveram fazer e assumir o trabalho, avisando o povo que isso seria feito em atenção ao povo mais necessitado.
Na área de Colônia e Arpoadores havia também outro alagamento grave todos os anos. A lagoa do mel não possuía sangradouro do lado do mar e alagava anualmente toda a área. Havia casas que ficavam durante 6 ou 8 meses com 1 m de água. Foram feitos numerosos projetos e Pe. Caetano conseguiu com o Governador Tasso Jereissati, uma galeria desde a lagoa do mel até o Oceano. Na continuidade desse trabalho, ao que parece o Governador Ciro Gomes decidiu realizar o projeto SANEAR, começando pela nossa comunidade.
Na Zona da Colônia dois grandes terrenos pertenciam à área desapropriada pela União federal em 1962, no tempo de Pe. Hélio. Esses terrenos, mesmo tendo sido desapropriados, haviam sido vendidos para duas grandes firmas. Pe. Caetano pediu o atestado do domínio da União, provando que os terrenos pertenciam à área desapropriada, e, levando esse atestado, procurou os donos das firmas que compraram os terrenos. Um deles imediatamente cedeu o terreno para a comunidade, o outro entrou em questão. Tratando com o então prefeito Evandro Ayres de Moura, Pe. Caetano conseguiu dele o conjunto habitacional Nosso Chão. Cuja planta baixa foi realizada pelo próprio Padre, para providenciar o maior número possível de casas populares descentes e assim foi feito: mais de 100 famílias foram amparadas e tem suas casas próprias, O decreto da desapropriação de 25 de maio de 1962 (N° 1058), desapropriava, (além de outro que vinha da Marinha até à Av. Dr. Theberge) um terreno, ainda desocupado na época de, 525 000m2, da Av. Dr. Theberge até a R. Francisco Calaça, para a realização de um plano de urbanização, para desafogar o povo do Pirambú ( e não continuar a invadir e construir novas barracas, o que teria piorado o problema social desta imensa favela). Este segundo terreno foi entregue à responsabilidade do Estado para a realização deste lado do Pirambú, para este fim foi criada a COHAB-CE, que começou um projeto de casas populares construídas em regime de mutirão (“ajuda mútua”) e chegou a construir 128 casas e o colégio Mons. Hélio Campos. Mas esta primeira parcela demorou 4 anos (1964-1968) e, depois da realização a COHAB se encontrou incapaz de entregar igualmente as casas ao povo, porque o terreno do antigo Pirambú estava ainda litigioso entre os antigos donos e a União federal. Enquanto não chegassem a um acordo, a União Federal não podia dar o título legal de propriedade aos moradores. A COHAB teve, portanto, de desistir de seu projeto e entregou ao Centro Comunitário Cristo Redentor, sobre a presidência de Pe. Caetano, ele teve a incumbência de continuar, mesmo precariamente, este projeto. O Centro Comunitário Cristo Redentor loteou 1200 casas naquela área, efetivando com a ajuda da SUMOV, inspirando-se nos levantamentos e nas plantas já realizadas pela COHAB, alinhamento de rua, e assim possibilitar construir calçamentos e iluminação das casas e iluminação pública, etc. Tudo isso foi cadastrado e entregue às pessoas mais necessitadas e acompanhando, caso por caso e casa por casa por uma equipe da comunidade, técnicos da SUMOV e o próprio Pe. Caetano. Quando se autorizava a construção, as medidas eram especificadas, com a obrigação de levantar pelo menos a frente de tijolos e construir um sanitário; nenhum detalhe que possibilitasse um maior conforto e saúde ao povo carente era por ele esquecido.
Idealizou e esteve à frente da construção de todas as capelas das respectivas Zonas que compõem o bairro de Cristo Redentor, de uma maneira muito especial também projetou e esteve a frente da construção de nossa Matriz de Cristo Redentor. Contudo, apesar de seu grande trabalho social em nosso bairro, faltou dois projetos seus a serem realizados, dois sonhos que infelizmente não realizou em vida, a saber, a construção de um posto de Saúde e uma escola profissionalizante.
PRODUÇÃO LITERÁRIA:
Pe. Caetano é autor de várias publicações, tais como: ainda na Bélgica a partir do ano de 1962, uma revista especializada, sobre as mudanças do singular para o plural (Tu — Vós) no livro do Deuteronômio. No mesmo ano lança na Revista Clairs Regards artigo sobre o perdão dos pecados no Novo Testamento. 1964 na Revista Ecumênica, artigo sobre o mistério do povo judaico, ainda e sempre povo de Deus. 1965 na Revista Ecumênica, artigo sobre a Igreja e o Mundo. Lança em 1968 sua tese de licenciatura do Instituto Bíblico de Roma, transformado em livro sob o titulo “O Segredo Messiânico em São Marcos”.
A Partir de 1968, no Brasil, lança os títulos: A Teologia da Libertação à Luz da Renovação Carismática; Eclesiologia (1 e II); Doutrina Social da Igreja (Documentos); Um Novo Seminário de Oração — Os doze graus da oração de Jesus (Padres do Deserto); a RBB — Revista Bíblica Brasileira (1984 — 2004), revista especializada para um estudo aprofundado da Biblia. Alternando a cada ano um estudo do Antigo e do Novo Testamento; sendo esta publicação de quatro números anuais, um deles trazendo recensões.
O DISCÍPULO PE. CAETANO:
Monge durante 22 anos em Orval, sacerdote diocesano em Fortaleza, fundador de um Instituto Religioso, por toda a sua trajetória percebemos o quanto ele foi um discípulo atento à vontade e a Palavra de Deus em sua vida.
Na década de 70, depois de um retiro em forma de cenáculo com Pe. Eduardo, SJ, em São Paulo, Pe. Caetano tem seu primeiro contato com a Renovação Carismática Católica, que ele designaria mais tarde, como a espiritualidade do Cristo Ressuscitado e da Igreja viva.
Ao regressar inicia com alguns paroquianos o primeiro Seminário de Vida no Espírito Santo, este grupo era formado por: D. Beatriz e S. Vicente, S. Antonio Silva, Osias, Mãezinha, D. Cândida, Ir. Lindalva e Ir. Maria dos Anjos dentre outros. A partir de então, Pe. Caetano torna-se o grande mestre dessa novidade da Igreja. Não exageramos quando dizemos que as comunidades carismáticas de Fortaleza nascidas nas décadas de 70 e 80 tiveram Pe. Caetano como mestre e incentivador.
Foi em um grupo de oração onde ele escutou uma “profecia” que dizia:” Eis que farei de vós uma Nova Jerusalém “(Ap 21,1-2). Em janeiro de 1981 Pe. Caetano foi procurado por um grupo de rapazes, que queriam, junto com ele, urna vivência mais radical do Evangelho; depois de algum tempo um grupo de moças, orientadas pela Ir. Maria dos Anjos juntam-se ao grupo de rapazes, nasceria assim o Instituto Religioso Nova Jerusalém, que assim como seu fundador teria uma espiritualidade monástica como também carismática, e, tendo por carisma a Palavra de Deus.
Mais que um exegeta (cientista da Palavra de Deus), Pe. Caetano encarnou essa Palavra em toda sua história de vida: Um dia deixou a casa de seus pais, deixou sua terra e veio ser sinal de Deus para um povo. O deserto do Pirambú veio desbravar e transformar em terra que jorra leite e mel para uma multidão de pessoas carentes e abandonadas. Foi o profeta ao denunciar as injustiças contra seu povo, e como tal foi tantas vezes perseguido e incompreendido. Com a Renovação &xrismática Católica viveu a forte experiência de Pentecostes. Nos últimos momentos de sua vida foi “o homem das dores “, encarnou o Servo Sofredor e em sua Páscoa habita a Jerusalém Celeste e Contempla seu Deus face a face.
Ele foi pastor, pai teólogo, exegeta, poliglota, exorcista, advogado, engenheiro, professor, escritor, fundador etc. Recebeu diversos títulos e comendas, porém o melhor título que podemos dar- lhe, nós que fazemos a Nova Jerusalém, seus filhos, filhas, netos, toda a paróquia de Cristo Redentor, seus amigos, de uma maneira geral todos aqueles que tiveram o privilégio de conviver e aprender com ele, é o de Pai. Pe. Caetano o senhor foi e será eternamente, simplesmente nosso PAI.
Fonte: Arquivo do Instituto Religioso Nova Jerusalém
Por Ir. Narcélio, NJ